Por que estamos em greve?

Já são 50 instituições federais de ensino superior em greve em todo país, e isto certamente não se dá por acaso.
De todas as carreiras do funcionalismo público federal que exigem doutorado e dedicação exclusiva, a de professor universitário é a que tem os mais baixos salários. Além disso, há uma série de distorções na carreira docente que o ANDES-SN (sindicato dos professores) tem tentado há muito tempo, sem sucesso, resolver em negociações junto ao governo federal.


Linha do tempo sobre as negociações entre ANDES-SN e governo federal - Giulia Panno/Ocupância UFRJ


A proposta de carreira do governo federal para os professores está cheia de distorções. Nela, somente o professor “sênior”, último nível da carreira, ganharia bem de fato. Até lá, o professor que ingressa na carreira com doutorado e dedicação exclusiva demoraria 24 anos para chegar. Só ganharia bem de fato depois de 24 anos de serviços prestados à universidade pública. Professores mal pagos precisam se dedicar a outras atividades e, muitas vezes, acabam tratando a universidade como um bico. Esta é uma realidade muito ruim, que cremos ser necessário combater.

O plano de carreira apresentado pelo governo também apresenta outras distorções, como por exemplo a supervalorização das atividades docentes na pós-graduação em detrimento daquelas realizadas na graduação. O professor que der mais aulas na pós-graduação progride mais rápido na carreira. Isto pode acentuar uma tendência que já se observa hoje de abandono da graduação por parte de muitos professores para se dedicar à pós-graduação.

Todas essas questões dizem respeito não somente aos professores, mas também a nós, estudantes. Entendemos que a valorização da carreira docente melhorará nossas condições de estudo, razão pela qual apoiamos a greve nacional puxada pelo ANDES-SN. Porém, é preciso mais do que isso para entender porque estamos em greve estudantil na UFRJ também.

Na maior assembléia estudantil que a UFRJ já viu nos últimos 20 anos, realizada no dia 29 de maio, cerca de 2 mil estudantes votaram, por ampla maioria, a deflagração de uma greve estudantil em nossa universidade. Por que estamos em greve? Estamos em greve porque a situação da UFRJ é precária, sob muitos aspectos. Nenhum de nós é contra a expansão da universidade, mas queremos que ela seja feita garantindo a qualidade dos cursos, o que nos últimos anos lamentavelmente não vem ocorrendo. Não é à toa a situação de absoluta precariedade vivida nos campi de Macaé e Xerém, os containers instalados como salas de aula na Praia Vermelha, a falta de professores em muitos cursos, a assistência estudantil deficitária e muitos outros problemas que vivemos em nosso cotidiano. Expansão não é um ato de vontade, precisa de condições materiais adequadas para ocorrer com qualidade. Por isso, queremos 10% do PIB para a educação já.

A greve estudantil é algo muito novo para todos nós. É natural que haja muitas dúvidas quanto ao seu significado e implicações práticas em nossas vidas. Por isso, fizemos uma seção neste blog de “perguntas freqüentes” para responder algumas das dúvidas mais corriqueiras. Também estamos construindo o SAE, Serviço de Atendimento ao Estudante, que estará no ar em breve e cujo objetivo é responder diretamente dúvidas e questões que nos sejam enviadas.

De todo modo, cabe afirmar desde já que, como estamos em greve estudantil, juridicamente todo estudante da UFRJ passa a ter direito, a partir de agora, a abono de faltas, segunda chamada, reposição de aulas e todas as garantias possíveis para que ninguém seja prejudicado por eventuais professores fura-greve. No último dia 06 de junho, o CEG (Conselho de Ensino de Graduação), que é uma das principais instâncias decisórias da UFRJ, aprovou a suspensão do calendário acadêmico até então vigente.  Esta é mais uma garantia de que você, estudante, poderá exercer com toda tranqüilidade o seu direito a greve sem ser prejudicado por isso. Para saber mais sobre isso, leia a aba “Na UFRJ”.

O que importa é que agora estamos em greve. Temos pautas de reivindicações estudantis, muita coisa a ser negociada e conquistada junto a direções de unidade, reitoria, MEC e governo federal. Junte-se a nós na tarefa de construir uma greve de ocupação, que sensibilize a sociedade para os problemas da educação e que ajude a melhorar concretamente nossas condições de estudo. Nossas metas são audaciosas, mas nosso tesão para alcançá-las também é imenso.

Fica aqui um convite à luta. Sejamos protagonistas nessa greve. Sejamos mais palco e menos platéia. Tomemos em nossas mãos a tarefa de melhorar a situação da educação pública no Brasil. ESTAMOS EM GREVE PARA ISSO. 

-> Veja todas as nossas reivindicações. (link int)
-> Entenda o Comando de Greve

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